Transtornos do Neurodesenvolvimento

Vamos abordar, primeiramente, alguns aspectos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), para depois comentarmos como a Cannabis Medicinal pode auxiliar no tratamento adjuvante dessas condições.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento, podendo ocasionar uma série de alterações nas funções cerebrais, ocasionando o surgimento de vários sintomas, conforme as particularidades de cada paciente.

As condições que levam a essa enfermidade ainda não são totalmente esclarecidas, mas sabemos que alguns pontos estão presentes na sua evolução, dentre eles, podemos citar o desequilíbrio entre os estímulos excitatórios e inibitórios dos neurônios, assim como a inflamação crônica que esse desequilíbrio gera para o cérebro, o que acarreta danos importantes na comunicação e nos circuitos envolvendo os neurônios.

Além disso, trabalhos científicos atuais já mostram uma baixa funcionalidade do Sistema Endocanabinóide no cérebro desses pacientes, com a diminuição dos níveis dos endocanabinóides que produzimos, como a Anandamida e 2-AG.

Já o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), como o próprio nome diz, cursa com sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, podendo estar associado a outras condições, como o próprio TEA, o Transtorno Bipolar Afetivo entre outros. As bases neurobiológicas do TDAH ainda hoje são incertas, mas os estudos científicos atuais apontam uma atividade disfuncional de neurônios que liberam dopamina e noradrenalina em algumas áreas específicas do cérebro, que são responsáveis pelos nossos comportamentos e emoções. O desequilíbrio envolvendo a comunicação entre os neurônios e a liberação de neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) contribuem para a evolução dos sintomas citados no TDAH. Importante ressaltar que os tratamentos atuais visam aumentar a disponibilidade desses neurotransmissores no cérebro

Porém, vale lembrar, que o Sistema Endocanabinóide está presente em todas as regiões do cérebro, inclusive nas áreas disfuncionais citadas no TDAH, onde a atuação dos seus receptores CB1 e CB2 são capazes de desencadear inúmeras reações que visam restabelecer a boa comunicação entre os neurônios, assim como modular a liberação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina.

É nesse contexto do TEA e do TDAH que os fitocanabinóides da planta Cannabis sativa  atuam na restauração do bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide em nível cerebral, pois alguns fitocanabinóides são capazes de interagir com os receptores CB1 e CB2 e, assim, desencadear ações que visam diminuir a inflamação cerebral, modulando a excitabilidade e a comunicação entre os neurônios, além de regular a liberação de diversos neurotransmissores que podem estar afetados (ex: glutamato, dopamina, noradrenalina, serotonina entre outros), resultando num ambiente mais harmônico para o bom funcionamento do sistema nervoso, que por sua vez, atua no controle das nossas emoções, comportamento, motricidade entre outros.

Sendo assim, a modulação do Sistema Endocanabinóide nesses pacientes através de alguns fitocanabinóides da planta cannabis sativa, pode ocasionar uma melhora nas alterações comportamentais, na comunicação, nas interações interpessoais, na diminuição da agressividade, da irritabilidade, da impulsividade, da desatenção e da ansiedade, além da melhora no padrão do sono e na sensibilidade sensorial.

É sempre bom frisar que, para cada enfermidade, o tratamento adjuvante com Cannabis Medicinal é personalizado, respeitando as particularidades de cada paciente, da sua enfermidade e de seus sintomas, alinhando suas as expectativas com o prognóstico do tratamento, sempre baseado na literatura médica atual.

Conforme o tratamento estipulado para cada enfermidade, podemos utilizar diferentes canabinóides extraídos da planta Cannabis sativa (como por exemplo o CBD, CBG, THC) e em diversas concentrações, que será determinado durante a consulta, mediante a cada condição clínica reportada pelo paciente.

(Veja também o tópico de ” Mas como a Cannabis Medicinal age no meu corpo”; ” Doenças Neurodegenerativas”)